Ao lado da galilé construída por Nasoni, encontra-se uma fonte - o Chafariz de S. Miguel (ou do Anjo) - também atribuída ao célebre arquitecto e pintor italiano. Nicolau Nasoni trabalhou no Porto de 1725 a 1773 e aqui casou com uma sua patrícia, em 1729. No ano seguinte, já viúvo, voltou a casar, desta vez com uma portuguesa, e por cá ficou até à sua morte, em 1773, sendo sepultado (de acordo com a sua própria vontade) na igreja dos Clérigos, a obra mais emblemática de todas as que realizou na cidade. O chafariz de S. Miguel, perfeitamente enquadrado no conjunto da catedral, é uma das obras menores de Nasoni, mas não deixa de ter alguma beleza arquitectónica. Adoçado à parede da Casa do Despacho, da Sé, apresenta uma interessante moldura constituída por uma grade em ferro forjado (um belo exemplar das muitas obras do género semeadas em varandas, portas e janelas do Porto, durante os séculos XVII e XVIII) e um relevo em mármore, incrustado na parte superior da fonte. A rematar o conjunto, uma pequena escultura em pedra de Ançã, representando o anjo S. Miguel, que dá o nome à fonte.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Palácio de S. João Novo
Localizada no topo norte do Largo de S. João, o Palácio de S. João Novo apresenta-se-nos como uma casa apalaçada, em estilo barroco do segundo quartel do século XVIII. A sua construção serviu de habitação a muitos dos mais ilustres famílias do Porto, como está patente no brasão em granito colocado sobre a porta principal. A autoria deste projecto divide opiniões pois que Robert C. Smith o atribui a Nicolau Nasoni e Jaime Ferreira identifica-o como obra de António Pereira. O palácio ocupa um local de difícil implantação. O fundo da casa situa-se junto a um pano da muralha da cidade, parecendo ter sido escavado, na alta escarpa que se levanta atrás. Contra o declive estão as dependências do edifício, uma série de terraços, ligados por escadas, passadiços e ramadas, todos construídos em granito.
Abóbadas e fachada da Igreja da Misericódia
Inicialmente, a Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia instalou-se na capela de S. Tiago, no claustro velho da Sé do Porto no entanto em 1555, atendendo à beleza da Rua das Flores, aberta por D. Manuel alguns anos antes, mudaram para lá a Casa do Despacho, iniciando nesse mesmo ano a construção da sua igreja, que seria benzida em 13 de Dezembro de 1559. Deve acrescentar-se que a existência desta igreja e confraria se deveu à constituição da Santa Casa da Misericórdia do Porto em 1502, constituída na sequência duma carta que D. Manuel I escreveu, em 1499, «aos juizes, vereadores, procurador, fidalgos, cavaleiros e homens bons» da cidade, na qual lhes recomendava a criação duma confraria semelhante à de Lisboa, instituída no ano anterior. A igreja foi benzida ainda incompleta pois a construção da capela-mor data de 1584, recebendo o Santíssimo em 1590. A igreja foi reedificada em 1748, sendo reforçadas as paredes, construídos abóbadas novas e uma nova fachada, desenhada por Nicolau Nasoni em estilo «barroco luxurioso do sul de Itália, já dominado pelas formas do rococó». Da antiga igreja preservou-se apenas a capela-mor.
Igreja dos Clérigos
A Igreja dos Clérigos situada na rua de S Filipe de Néri é a representação mais marcante do estilo barroco. A sua construção teve inicio em 1732 e constitui a obra mais imponente de Nicolau Nasoni. Esta nova concepção do classicismo renascentista revelado nas talhas dos enriquecidos interiores de templos resulta na combinação de volumes primorosamente modelados num ímpeto de fantasia e paixão. A parte exterior da igreja é constituída por uma escadaria dupla ornamentada de vasos floridos esculpidos em pedra. A fachada principal composta por um portal encimado por uma janela de grande dimensão separada das janelas laterais por pilastras lavradas em espiral. No nível superior desta fachada podemos admirar uma outra janela de grande porte com repisa erguida e almofadada onde se encontra a mitra papal. Nas partes laterais deste nível superior deparamo-nos ainda com duas estatuas recolhidas em nichos em forma de concha, uma de S. Pedro e a outra de S. Filipe de Néri. A culminar este notável projecto arquitectónico deparamos com um frontão triangular salientando-se-lhe no centro um monograma A M esculpido no tímpano da armação saliente e enfeitado com folhagem, grinalda e volutas em homenagem à Nossa Senhora da Assunção. De visita ao interior do templo concluímos que este possui apenas uma nave, de forma elíptica. O tecto é uma abobada dividida por arcos entrevalados por um escudo formado pelo monograma A M. As chaves de S. Pedro, a mitra e a folhagem descaindo sobre o entablamento estão sustentados por pilastras. Na entrada da igreja é de realçar a sumptuosa imagem do Arcanjo S. Miguel segurando um escudo de madeira. Na capela-mor encontramos um trono ostentando a imagem da Virgem e sob ele uma urna contendo os restos mortais do mártir Santo Inocêncio e de Nicolau Nasoni, falecido em 1773. Podemos ainda maravilhar-nos com o retábulo estio Luís XV todo de mármore de diversas cores.
Pinturas morais da capela-mor e galité
O monumento mais antigo e catedral portuense, a Sé, provém do século XII após a eleição do Bispo D. Hugo, Arcediago da Sé de Compostela. Foi a este que em 1120 a rainha Dª Teresa doou o burgo portucalense e o seu respectivo couto de onde proveio a dita catedral. D. Hugo é além de restaurador desta mui nobre cidade, o mentor deste honroso património que a Comissão mundial denominou de Património Mundial. A Sé portuense, de origem românica fica situada no monte da Penaventosa, também chamado de Terreiro da Sé. Conta-se que a primeira pedra foi assente pela rainha Dª Teresa viuva do conde D. Henrique, só vindo a ser concluída já no reinado de D. Dinis. A sua decoração primitiva foi baseada na Sé velha de Coimbra. No entanto com o passar dos tempos esta catedral sofreu diversas alterações que lhe apagaram os traços primitivos. Anos mais tarde o artista fiorentino Nicolau Nasoni barroquisou-a desenhando-lhe as pinturas murais da capela-mor e construindo-lhe a galilé (parte alpendrada e sustentada por colunas).
Vida e obra de Nicolau Nasoni
O pintor e arquitecto de origem italiana, Nicolau Nasoni nasceu a 2 de Junho de 1691, na Toscana, e faleceu a 30 de Agosto de 1773, no Porto, recebendo sepultura na sua Igreja dos Clérigos - obra-prima do Barroco nortenho. Discípulo do pintor Giuseppe Nasini, Nasoni inicia a sua carreira artísica na cidade de Siena. A sua formação como pintor é realizada através de encomendas de arte efémera, nomeadamente na construção e decoração de arcos de triunfo, carros alegóricos, etc. Na vertente da arquitectura, Nasoni aprendeu no atelier de Franchini e de Vicenzo Ferrati. Após a sua estada em Siena, Nasoni dirige-se para Roma. A póxima etapa foi a Ilha de Malta. Em 1723, encontrava-se ao serviço do grão-mestre Frei António Manuel de Vilhena, incumbido de pintar algumas dependências do Palácio dos Grãos-Mestres em La Valetta. Aqui estabelece ligações com o portuense Frei Roque de Távora e Noronha, irmão do deão da Sé do Porto, conseguindo ser contratado para uma empreitada nas obras de renovação da Catedral portuense. Deste modo, em 1725, o artista estabelece-se definitivamente na cidade do Porto. No panorama da pintura portuguesa setecentista, Nasoni destaca-se como pintor ilusionista, dominando a técnica do trompe l'oeil e da perspectiva, conferindo profundidade cenográfica a superfícies planas. Após a Sé do Porto, onde pinta a têmpera, Nasoni encarrega-se da pintura das abóbadas da Sé Catedral de Lamego, decorria o ano de 1737. Outros contratos são celebrados para efectivar pinturas na Igreja da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco do Porto, na Igreja de S. Pedro de Tarouca e ainda os tectos do Palácio do Freixo, no Porto. Como arquitecto, Nasoni marcaria o Barroco setecentista na cidade do Porto e seu termo. A sua primeira e emblemática obra foi a Igreja, enfermaria e Torre dos Clérigos, cujo projecto foi apresentado em 1731 e a sua construção iniciada em 1732, é considerada a obra-prima do Barroco portuense. No período compreendido entre os anos de 1743 e 1749, Nasoni encontra-se à frente das obras de remodelação da fachada da Igreja do Senhor Bom Jesus matosinhense, reedificando em 1745 a Igreja de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia, e estando ainda activo em 1749 na reconstrução da Igreja da Misericórdia do Porto. O labor deste artista italiano estendeu-se à arquitectura civil. O historiador Robert Smith atribui-lhe a autoria do risco da Quinta do Ramalde, da Quinta do Viso, da Quinta da Prelada, de Santa Cruz do Bispo e ainda do Palácio do Freixo. Provavelmente, embora a documentação seja omissa a esse respeito, Nasoni terá sido o autor do Solar de Mateus, palácio nos arredores de Vila Real.O estilo arquitectónico de Nicolau Nasoni inscreve-se no universo de um Barroco de aparato e cenográfico, influenciado pela arquitectura italiana da Toscânia e de Roma. De volumetrias sólidas, linhas túrgidas e movimentadas, o seu Barroco decorativista estabeleceu escola no Norte de Portugal, influenciando decisivamente os artistas portugueses coetâneos. Além da sua vertente de pintor-arquitecto, Nasoni idealizou diversos desenhos para peças de ourivesaria, modelos de escultura e ainda ornatos e retábulos em talha dourada, influenciando também assim os artistas do Barroco português.
Biografia cronológica de Nicolau Nasoni
- 1691: Nasce na Toscana.
- 1715/20: Trabalha em Siena.
- 1723: Parte para Malta. Executa a decoração do Palácio do Grão Mestre da Ordem de Malta.
- 1725: Vai para o Porto. Trabalha nas pinturas da Sé.
- 1729: Casa com Isabel Castriotto Riccardi.
- 1730: Nasce o seu filho José. Morre a sua mulher Isabel. Casa com Antónia Mascarenhas Malafaia.
- 1731: Faz o projecto da Igreja dos Clérigos. Nasce a filha Margarida.
- 1732: Nasce o filho António.
- 1734: Nasce o filho Jerónimo. Executa uma planta para o Paço Episcopal.
- 1736: Nasce o filho Francisco.
- 1737: Trabalha na Sé de Lamego. Nasce a filha Ana.
- 1739: Pinta a Igreja da Cumeeira.
- 1743: Frontispício da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos. É admitido como irmão dos Clérigos.
- 1745: Igreja de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Retábulo da igreja de Santo Ildefonso.
- 1748: É celebrada a 1ª missa na Igreja dos Clérigos.
- 1749: Frontispício da Igreja da Misericórdia.
- 1750: Palácio do Freixo.
- 1754: Morre o deão Jerónimo de Távora.
- 1758: Quinta da Prelada.
- 1762: O filho Francisco é deportado para a Índia.
- 1763: Conclusão da construção da Torre dos Clérigos.
- 1773: Morre no Porto.
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Biografia cronológica de Nicolau Nasoni
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